quinta-feira, 22 de abril de 2010

Time after time

Sempre curei minhas dores colocando-as no papel. É como se, ao escrever, elas se tornasse externas a mim, como se assim eu me tornasse consciente do caminho que levou a sentir essa dor.

Optei não me viciar mais no sofrimento e fazer da poesia uma maneira de cultivar o que é bom... Bons sentimentos vão para o papel e, ao invés de externos a mim, passam a ser mais profundos.

E, aos poucos, permito à rosa ganhar raízes.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A imprevisibilidade

Não pretendo a perfeição
Sou uma peça de quebra-cabeças
E são essenciais meus defeitos
Assim, encontro encaixes perfeitos

Portanto, não quero perfeição
Quero encaixes que me façam prender a respiração

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Infinito Particular


"Eis o melhor e o pior de mim/ O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate/ Não é impossível
Eu não sou difícil de ler/ Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara/ Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar/ No meu infinito particular
Em alguns instantes/ Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara/ O mundo é portátil/ Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara/ É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo / A água é potável/ Daqui você pode bebe
Só não se perca ao entrar/ No meu infinito particular"

Infinito Particular (Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Paredes em branco

Por algum tempo, o mundo parou... aliás, descortinou-se um mundo paralelo, alheio às convenções sociais, noções de tempo, espaço e intensidade... tudo à flor da pele, intenso, cinematográfico.

Mas o mundo paralelo era só uma miragem, era um borrão de tinta colorida que encobria um quadro em branco, tão vazio quanto a maioria dos quadros que já foram pregados nas paredes da casa que mantenho dentro de mim.

Alguns quadros já vieram e foram abruptamente arrancados das paredes... as marcas ficam, mas as paredes se fortalecem. O último quadro parecia definitivo, feito especialmente pras minhas paredes... mas alguns quadros preferem fazer parte de exposições itinerantes e não de exposições fixas, onde serão cuidados e contemplados em sua plenitude até o fim dos tempos.

Com a saída do último quadro, o branco das paredes e o silêncio eram ensurdecedores... momentos de surto! O surto (rompante inconsciente) converteu-se em catarse (rompante de retomada de consciência)... Minhas paredes agora tem novos quadros, dessa vez quadros meus... resolvi eu mesma decorar para evitar de esperar que grandes obras de arte resolvam aportar no meu cais.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Como nos enganamos

"Às vezes usamos nossa mente não para descobrir fatos, mas para encobrí-los. Usamos parte da mente como uma tela para impedir outra parte de perceber o que se passa em outro lugar. Esse encobrimento não é necessariamente intencional - não tencionamos confundir o tempo todo - mas, de propósito ou não, para todos os efeitos há uma tela que oculta. (...) Às vezes usamos nossa mente para ocultar uma parte de nosso ser de outra parte do nosso ser.

(...) o impacto integral e duradouro dos sentimentos requer a consciência, pois somente em conjunção com o advento de um sentido do self os sentimentos tornam-se conhecidos pelo indivíduo que os tem." O mistério da consciência - Antonio Damásio