quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A magia do palco

Após um tempo longe dos palcos, fui pega de surpresa... sem aviso prévio ou ensaio, cantei!

Um torpor, uma explosão, como se meu sentimento extravasasse meu corpo e começasse a fazer parte das energias que compõem o Universo! Vai além dos sentidos conhecidos... ali, não penso em nada, sou puramente eu!

No palco, sinto felicidade plena, liberdade e total desprendimento da noção da efemeridade da vida... acredito que isso aconteça porque o legado do músico (artista e/ ou educador) o faz ser eterno.

"Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar..."

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Catarse do Capitão Nascimento

Ontem assisti "Tropa de Elite 2"... mercedor de Oscar! E o Wagner Moura!? O cara do cinema nacional que dá um show muuuito mais interessante do que 99% dos atores de Hollywood! No final do filme, deu vontade de dar um abraço no Capitão Nascimento!!!!

E o tal do Padilha? Um filme que não é de matança gratuita, um filme inteligente, pra fazer pensar... chocante como deve ser! E saí pensando que às vezes me sinto um pouco como o Nascimento!

Já passei por situações em que escolhi um determinado caminho por acreditar que meu trabalho poderia fazer a diferença e abrir os olhos das pessoas... assim escolhi o jornalismo! E, quando vi que o buraco era mais embaixo, fiquei puta da vida! Na arte também tem "buraco mais embaixo", mas amo tanto a arte (como o Nascimento amava seu ofício) que aguento, e assim mesmo faço o possível para fazer a diferença e ajudar as pessaos a entenderem que elas também podem fazer a diferença.

Ele cometeu erros acreditando estar agindo da melhor forma (não só pensando nele, mas também no povo e em sua equipe), viu o erro, reconheceu, mudou de caminho, deu errado, reconheceu de novo o erro sem ter medo! E por isso que acho que todos devemos ser um pouco Capitão Nascimento... não há pecado em errar tentando acertar!

Agora entendi o post da Elise, do blog Salada Mista (http://elise-saladamista.blogspot.com/), falando que queria ser Capitão Nascimento!

Como diz a música "Dessa Vez", do Nando Reis:
"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer/ É bom olhar pra frente, é bom nunca é igual/ Olhar, beijar e ouvir, cantar um novo dia nascendo/ É bom e é tão diferente"

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A dose da revolta


Dificilmente nos movemos em direção de algo se não houver uma dose de revolta, por menor que seja.


No Houaiss -> Revolta: 1. ato ou efeito de revoltar(-se), grande perturbação; agitação.


A revolta é como o impulso que faz o Grand Jeté perfeito... se for de menos, não é possível saltar... se for em excesso, o salto pode ficar bom porém a aterrissagem pode ser desastrosa.


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Não me conformo

Não me conformo com indiferença
Não me conformo com injustiça...
Não me conformo com insensibilidade
Não me conformo com arrogância
Não me conformo com falta de caráter
Não me conformo com mentira
Não me conformo com falta de confiança
Não me conformo com desonestidade
Não me conformo com estupidez
Não me conformo com ignorância

Porque quando nos conformamos, somos cúmplices!

Gosto mesmo é da cumplicidade do amor
Do abraço sincero de um amigo
Da conversa franca em família
Da canção feita pra emocionar!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sabedoria de Clarice Lispector

"Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz."

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Trechos do Epicuro

A justiça não tem existência por si própria, mas sempre se encontra nas relações recíprocas, em qualquer tempo e lugar em que exista um pacto de não produzir nem sofrer dano.

Das normas prescritas como justas, o que é considerado útil nas necessidades da convivência recíproca tem o caráter do justo, embora no fim não seja igual para todos os casos. Se, pelo contrário, se estabelece uma lei que depois não se revela conforme a utilidade da convivência recíproca, então já não conserva o caráter do justo.

O sábio não participará da vida pública se não sobrevier causa para tal.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sem música, a vida seria um erro

Eu não lembro quando decidi ser professora! Mas que, desde muito novinha, adorava explicar pros meus pais, avós, tios e primos sobre o que tinha aprendido na escola, no ballet, no flamenco, no inglês... minha mãe praticamente se formou na faculdade comigo, porque eu chegava em casa tarde da noite mas queria contar pra ela sobre os textos incríveis de Edgar Morin, Walter Benjamin... ela lia tudo depois!

Numa dessas grandes viradas da vida, decidi assumir meu sonho de trabalhar com arte... dei algumas (não muitas) aulas de ballet, flamenco, musicalização infantil, mas atualmente dou aulas de canto e tenho certeza de que encontrei meu lugar, minha função no mundo! Despertar a arte que todas as pessoas tem dentro de si é algo muito mágico, delicioso, indescritível! O brilho nos olhos dos alunos ao conseguirem cantar uma música que julgavam ser muito difícil é tão lindo... me realizo com a felicidade dos meus alunos, e dos demais alunos da escola, no palco!

Conhecimento dentro de uma caixa não serve pra nada... é uma grande estupidez tentar guardar o conhecimento para si, como se fosse propriedade privada! Conhecimento gera conhecimento e ensinar é aprender... compartilhar é edificante e gratificante! Por isso, sou muito grata por ter a oportunidade, a vontade e o dom de ensinar!

Ontem recebi o e-mail de uma aluna, agradecendo pelas aulas, pelo suporte... porque cantar tem feito ela notar antigas feridas que tentou ignorar. Feridas que a música está ajudando a curar.

Aproveito o blog para agradecer a todos os alunos por confiarem no meu trabalho e de meus colegas professores de música, dança, pintura, teatro...

Como disse Nietzche: "Sem música, a vida seria um erro"

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O tato


O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre Eros e Tânatos. É através do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece.

Escarafunchei minhas memórias de leitura e não encontrei nada que se referisse ao tato, exceto na poesia e na literatura. Um dos poemas de Fernando Pessoa que mais me comovem é construído a partir de uma experiência de um toque. “Foi um momento o em que pousaste sobre o meu braço, num movimento mais de cansaço que pensamento, a tua mão, e a retiraste. Senti ou não? Não sei. Mas lembro e sinto ainda qualquer memória fixa e corpórea onde pousaste a mão que teve qualquer sentido incompreendido, mas tão de leve!.. Como se tu, sem o querer, em mim tocasses para dizer qualquer mistério, súbito e etéreo, que nem soubesses que tinha ser.” ( Fernando Pessoa, Obra Poética, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, p.178 ) A mão toca o braço, sem pensar, para dizer... E daí surge um poema.

O olhar pode revelar amor ou morte. Mas o olhar exige distância para ver. O olhar não toca. Os olhos, para ver, têm de estar distantes da pele. O olhar promete, anuncia, ou o carinho ou o soco.

Mas o olhar não é nem o carinho e nem o soco. Carinho e soco são entidades do tato.

A audição também. Ouvir um poema pode ser uma experiência de amor (como no filme “O carteiro e poeta”). Mas nenhum amante se contenta com a alegria que seus ouvidos lhe dão ao ouvir a voz da pessoa amada. A voz não basta. A conversa ao telefone é alegria. Mas o telefone terá de ser desligado sem que se realize a promessa de carinho que estava presente na voz. Beethoven escreveu uma sonata que recebeu o nome de “Sonata do adeus”. Ela se divide em três partes. Inicia-se com três acordes de profunda tristeza e que dizem vagarosamente “Le-be-wohl” – “Adeus”. O segundo movimento é a “Ausência” – um tempo melancólico de tédio. Distância vazia. E o terceiro, de esfuziante alegria, o “Retorno”. Retorno é poder abraçar de novo, tocar, acariciar, beijar, fazer amor... A alegria dos ouvidos é mendiga. Ela está sempre mendigando o toque. Recebi uma chamada telefônica a cobrar. Ao atendê-la ouvi uma voz desconhecida que me ameaçava com um “grupo fortemente armado” caso não atendesse suas exigências. Eu não disse nada. Só desliguei o telefone. A voz, sozinha, não pode cumprir suas ameaças. A voz não pode perfurar o meu corpo.

O tato acontece quando a pele e, portanto, o meu corpo, é tocado por algo de fora (ou por ele mesmo...). Nisso está a sua delícia! Nisso está o seu perigo!

A primeira experiência do nenezinho ao vir ao mundo é a experiência de tato. Sem nada saber, sua boquinha já mama um objeto ausente. Fome, dirão. Não tenho tanta certeza. Se fosse fome o nenezinho pararia de chorar somente depois que o leite fizesse seu trabalho tranqüilizador no estômago. Mas não é assim. O nenezinho para de chorar imediatamente quando sua boca se ajusta ao seio. É uma experiência tátil de tanto prazer que permanece gravada inesquecivelmente em nossa memória erótica. É por isso que, mesmo depois de desmamados, os nenezinhos continuam à procura da experiência tátil original, completamente dissociada do leite.

(...) Mas o tato é, talvez, o sentido sobre o qual menos se tenha falado. Há uma filosofia dos olhos, uma filosofia do ouvido, uma filosofia da boca. Mas desconheço uma meditação filosófica sobre o tocar. E, no entanto, a pele é lugar de tantas alegrias. Lembro-me de uma cena do filme “Cidade dos Anjos”. Quando o Anjo Apaixonado resolveu tornar-se humano, mesmo ao preço de perder sua imortalidade, ele entrou no mundo desconhecido das delícias do tato. Há uma cena em que ele está tomando um banho de chuveiro. Ah! Que experiência assombrosa de prazer e alegria! E, no entanto, é uma experiência que temos diariamente. Acontece que, em nossos rituais, ela não é uma experiência erótica mas simplesmente um automatismo prático da caixa das ferramentas.

Rubem Alves

http://www.rubemalves.com.br/otato.htm

sábado, 25 de setembro de 2010

A Cidade Dos Artistas

A Cidade Dos Artistas
Chico Buarque

Na cidade
Ser artista
É posar sorridente
É ver se de repente
Sai numa revista
É esperar que o orelhão
Complete a ligação
Confirmando a excursão
Que te leva ao Japão
Com o teu pianista
E antes que
O sol desponte
Contemplando
O horizonte
Conceder entrevistas
Aos outros artistas
Debaixo da ponte
Na cidade
Ser artista
É subir na cadeira
Engolindo peixeira
É empolgar o turista
É beber formicida
É cuspir labareda
É olhar a praça lotando
E o chapéu estufando
De tanta moeda
É cair de joelhos
É dar graças ao céu
Lá se foi o turista
O dinheiro, a peixeira
A cadeira e o chapéu
Ser artista
Na cidade
É comer um fiapo
É vestir um farrapo
É ficar à vontade
É vagar pela noite
É ser um vaga-lume
É catar uma guimba
É tomar uma pinga
É pintar um tapume
É não ser quase nada
É não ter documento
Até que o rapa te pega
Te dobra, te amassa
E te joga lá dentro

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sobre lugar nenhum

Por muito tempo a sensação de não pertencer a lugar algum me assustou e incomodou. Me senti excluída e um tanto deslocada em muitas ocasiões graças a isso... eu me cobrava... achava que deveria me sentir pertencente a algum lugar, puramente para me sentir segura, estável... pra saber pra onde correr.

Com o tempo, descobri que o não pertencimento a um determinado local mostrava algo maior... eu pertenço a mim mesma, não preciso estar fixada em certo lugar para me sentir segura, ter parâmetros para tomar decisões ou simplesmente conseguir entender o mundo.

Eu pertenço a mim mesma, e a minha fé de que o Universo é a minha casa e, restringir minha vivência a um pequeno espaço desse grande Universo seria uma grande ignorância. Assim, hoje continuo sentindo que não pertenço a lugar nenhum... sou uma cidadã do mundo, eterna aprendiz, sempre alerta, sempre completamente apaixonada por todas as oportunidades que um Universo tão vasto e incrível tem a oferecer a cada dia.

Se o Universo é infinito, a capacidade humana também é infinita e nenhum sonho é grande demais... Sou de lugar nenhum, sou do Universo, sou dos meus sonhos e da minha fé.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A escalada


Escalar é um exercício de confiança, como tudo na vida...

Como tudo na vida, antes de subir, você analisa o caminho mas, às vezes, no meio dá um branco... aí tem alguém ali embaixo te dando dicas do caminho mais adequado e torcendo pra que você consiga.

Como tudo na vida, às vezes parece que os braços e pernas não aguentarão mais, aí você olha pra baixo e vê alguém ali, te dando segurança, com um sorriso no rosto torcendo pela sua vitória. Então, uma força surge diretamente do coração e toma conta do corpo todo... e o final da subida, que parecia impossível, finalmente é cumprido.

Como tudo na vida, após alcançar o objetivo do topo, é hora de descer à realidade e encontrar outra parede mais difícil pra escalar. Dá frio na barriga, mas a adrenalina é incrível, e sempre tem aquela pessoa ali, fazendo sua segurança, falando "vai, se você não aguentar, solta da parede que te seguro e você descansa". E você toma coragem, sobe feliz e consegue escalar uma parede ainda mais difícil... desce da parede e encontra braços abertos para um delicioso "parabéns".

Como tudo na vida, depois do grande esforço, o corpo reclama, mas a alegria de ter cumprido um desafio dá vontade de desafiar o próprio cansaço, a falta de tempo, grana ou simplesmente, vontade de desafiar os limites de força, coragem e concentração.

Como em tudo na vida, não basta subir... temos de aprender também a ficar no chão, dando segurança pra quem nos dá segurança, torcendo, dando confiança para que a pessoa saiba que, caso haja um problema, você estará lá e não a deixará se machucar. E a sensação de dar segurança e ver o outro confiar, subir e conseguir, é tão deliciosa quando a nossa própria vitória... aliás, a vitória é sempre da dupla, independente de quem está escalando e quem está na segurança.

Como tudo na vida, é uma lição... lição que adorei e quero de novo.
PS.: Pra quem quiser experimentar: http://www.90graus.com.br/

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Receita contra TPM

Receita simples contra a TPM

Ingredientes
- 1 pessoa especial
- 1 sorriso lindo
- 1 vitória importante da pessoa especial
- palavras carinhosas (ao seu gosto)
- admiração
- carinho
- cuidado
- flores

Modo de preparo
Deixe que a vida misture tudo e se surpreenda com o incrível bem-estar, sensação de orgulho e felicidade que nos fazem esquecer de TPM, cólica ou qualquer negatividade!

Rendimento
Muitas pessoas... a felicidade gerada transborda e contagia quem estiver em volta!




O orgulho de acompanhar as conquistas de pessoas especiais reconforta a alma e nos faz comprovar a premissa: a capacidade do ser humano é infinita! Cada pequena conquista é um passo importante rumo à uma grande vitória!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Lobotomia, nomes duplos e Papai Noel

Em um passado não muito distante, fui funcionária de uma grande instituição financeira, trabalhando no call center. Foi meu primeiro emprego, no início da minha graduação em Jornalismo. Nada mais natural do que usar essa experiência para uma matéria...

Resgatei o texto e resolvi compartilhar... Enjoy it...

Lobotomia, nomes duplos e Papai Noel

Um grande prédio, um grande número de computadores por andar. Cerca de 4.000 pares de olhos que respondem por nomes duplos a um telefone que toca sem parar: após um cliente mal educado, em quatro segundos os dados de outra pessoa aparecem na tela, seguido de um pitoresco cumprimento: “Rafaela Silvana, bom dia”.

Aqueles pares de olhos passam seis horas diárias frente ao computador respondendo aos clientes conforme manual com frases “pré-fabricadas”. São praticamente uma extensão do equipamento. Após um mês de treinamento — português, comportamento, ergonomia, sistema da empresa — quase 100 ligações passam por cada um dos telefones da gigantesca central de atendimento ao cliente.

Nas seis horas, dez minutos para ir ao banheiro e/ou tomar água e quinze para tomar um lanche de “pão com alguma coisa” com algum acompanhamento: chá, café, café com leite, chocolate, suco ou água. Os olhos brilham quando um punhado de bolachas recheadas aparecem, mas isso apenas nos dias comemorativos. Aliás, em feriados, madrugadas, finais de semana, dias de chuva ou sol, nomes duplos atendem sob a égide de regras definidas em tempos anteriores ao nascimento de seus pais.

Todas as ligações gravadas. É exigido controle emocional mesmo quando o cliente culpa o atendente por seus problemas, xinga ou até mesmo ameaça de morte a pessoa que está ali apenas como interlocutor da instituição.

Esse controle também é necessário ao lidar com “donos” de nomes incomuns: Silvancleison, Anta, Oderbeibi, Uaudisnei, Lúcifer, Luz Divina, Fábio Junior Claweber e outros. Risinhos? Não, são passíveis de demissão aqueles que deixarem escapar. Corda bamba também para os que ficam “no vermelho” e não saem do cheque especial.

Uma vez por semana o supervisor (que zela por aproximadamente 25 atendentes) chama seus funcionários. Uma ligação atendida por cada nome duplo é analisada e uma nota é estipulada. O supervisor explica que o atendente não pode rir, falar seu nome, informar onde fica a central de atendimento, tem que cuidar pra não ter uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e vender, vender, vender.

Aquele velhinho que mal ouve o que o nome duplo diz e só quis saber se precisa mesmo pagar a conta de 100 reais, lamenta muito por ter pouca aposentadoria, aproveita os ouvidos receptivos do outro lado da linha e fala sobre quando foi militar, como sua esposa faleceu e quão ruim foi quando seus filhos pensaram em colocá-lo em um asilo.

Mesmo após ouvir todas as lamúrias, aquele nome duplo é obrigado a oferecer um serviço que custa caro para um aposentado. Ele compra e o peso na consciência é enorme... parece que ele nem entendeu nada, mas só comprou porque “foi muito bom falar com você, uma moça tão educada, filha”.

Então é a hora de seguir outra parte do script: comemorar a venda. Sim, porque todo nome duplo que se preza tem um pompom similar ao das Paquitas nos anos 80. O “acessório” fica na gaveta da mesa. Aquela mesa não pertence a ninguém, nem o pompom, porque cada dia os nomes duplos se acomodam “onde tem lugar”, contanto que seja naquele núcleo próximo ao supervisor.

Mas o que importa é que o velhinho comprou o produto: o pompom chacoalha no alto e o restante da equipe deve seguir o gesto para mostrar aos outros grupos que ali tem gente que sabe vender e pode “bater a meta”. Trabalham cinco dias por semana. Se esses coincidirem com os dias úteis, ótimo. Se não, paciência. Mas os nomes duplos preferem achar isso bom porque dinheiro da hora extra é bem vindo. Sempre devem ofertar os produtos, em todos os atendimentos (exceto quando o cliente estiver devendo, claro) e precisam vender mais de 100 produtos por dia.
Tarefa difícil quando 90% dos atendimentos são de clientes irritados, querendo que a empresa exploda e todos os seus funcionários morram de forma lenta e dolorosa. A fala robótica dos nomes duplos causa ainda mais ira. Ofertar produto? Precisa, mas não adianta. Quem vende muito ganha brinde, café da manhã, camiseta, boné, porta-cd. Tudo com a bela marca da instituição, que está espalhada por todo o país.

Todos os dias são iguais. Tem que bater o cartão dois minutos antes ou depois do horário de início do expediente. Nenhum papel, caneta, celular. O melhor amigo é o headset, o fone que deve ser ”trocado de ouvido” a cada hora para evitar problemas auditivos, conforme o treinamento de um mês que precede o início da vida escondida por trás de um nome duplo.
Para as milhares de pessoas que são atendidas, ali são computadores com nomes duplos. Não existe vida do outro lado da linha quando recorrem ao call center. Para os nomes duplos, sábado, domingo e feriado são folgas que dependem da escala mensal, assim como o horário do lanche, que um dia é às 9h45, outro é às 10h30, outro é às 11h15. O sistema escolhe as folgas os lanches e os nomes duplos.

Os atendentes não têm sobrenome, portanto, não têm família, passado, sentimento ou sofrimento. Sempre uma faceira saudação deve iniciar um atendimento, independente de dor de cabeça, problemas familiares, cólicas, sono... afinal, computadores sentem alguma coisa?
Mas os nomes duplos não costumam reclamar. São abduzidos por benefícios que os fazem “prosperar” no capitalismo canibal e desigual da terra verde e amarela. Participação nos lucros, trabalho registrado mesmo com a faculdade ainda em curso, redução nas taxas, facilidades em financiamentos, seis horas de jornada, convênio médico e odontológico: o mundo maravilhoso que se abre no horizonte.

Inexplicavelmente o mundo das regras — sem mudanças drásticas no visual, unhas aparadas, sapatos engraxados, nada de roupas extravagantes, barba feita, cabelos cortados, postura adequada, roupas passadas (sim, até isso) — torna-se uma extensão da vida dos nomes duplos que voltam a usar seus nomes comuns ao sair da central de atendimento mas continuam invisíveis: repetem frases prontas em script, seguem o que está no sistema e nas “leis de conduta”. Tudo é lindo. O Papai Noel também. Lobotomia?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Olho para o céu, tantas estrelas dizendo da imensidão, do universo em nós


"Meu amor...
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei"
Céu de Santo Amaro - Flávio Venturini
Contemplamos um céu azul anil ofuscante, seguido de um entardecer de cores inacreditáveis e uma noite com incontáveis estrelas que testemunharam nosso fascínio... Fomos nos apresentar à elas, pois nos guiarão em breve, em uma incrível e inesquecível jornada de sonho!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

sábado, 29 de maio de 2010

Ice Coffee Caramel

Muitos momentos não podem ser descritos, pois seriam reduzidos à meras palavras... mas a música, capaz de chegar ao coração diretamente, consegue cumprir melhor essa função de descrever momentos incríveis...

"Oh when you're cold I'll be there to hold you tight to me
When you're on the outside baby and you can't get in
I will show you, you're so much better than you know
When you're lost, and you're alone and can't get back again
I will find you darling, and I'll bring you home
And if u want to cry I am here to dry your eyes,
and in no time you'll be fine....."
By your side - Sade

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um ritmo, um pacto, um oceano afora


Aquele dia amanheceu despretencioso... após mais uma madrugada no bar com os amigos.

Presenteados pelos céus com um amanhecer maravilhoso, uma mágica nasceu! E o sol daquela manhã passou a fazer florescer rosas em um novo e recém plantado jardim!

"É você/ Só você/ Que na vida vai comigo agora / Nós dois na floresta e no salão/ Nada mais
Deita no meu peito e me devora/ Na vida só resta seguir/ Um risco, um passo, um gesto rio afora
É você/ Só você
Que invadiu o centro do espelho/ Nós dois na biblioteca e no saguão/ Ninguém mais
Deita no meu leito e se demora/ Na vida só resta seguir/ Um risco, um passo, um gesto rio afora
Na vida só resta seguir/ Um ritmo, um pacto e o resto rio afora..."
É Você - Marisa Monte

Um ritmo... um pacto... um oceano afora!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Time after time

Sempre curei minhas dores colocando-as no papel. É como se, ao escrever, elas se tornasse externas a mim, como se assim eu me tornasse consciente do caminho que levou a sentir essa dor.

Optei não me viciar mais no sofrimento e fazer da poesia uma maneira de cultivar o que é bom... Bons sentimentos vão para o papel e, ao invés de externos a mim, passam a ser mais profundos.

E, aos poucos, permito à rosa ganhar raízes.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A imprevisibilidade

Não pretendo a perfeição
Sou uma peça de quebra-cabeças
E são essenciais meus defeitos
Assim, encontro encaixes perfeitos

Portanto, não quero perfeição
Quero encaixes que me façam prender a respiração

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Infinito Particular


"Eis o melhor e o pior de mim/ O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate/ Não é impossível
Eu não sou difícil de ler/ Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara/ Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar/ No meu infinito particular
Em alguns instantes/ Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara/ O mundo é portátil/ Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara/ É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo / A água é potável/ Daqui você pode bebe
Só não se perca ao entrar/ No meu infinito particular"

Infinito Particular (Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Paredes em branco

Por algum tempo, o mundo parou... aliás, descortinou-se um mundo paralelo, alheio às convenções sociais, noções de tempo, espaço e intensidade... tudo à flor da pele, intenso, cinematográfico.

Mas o mundo paralelo era só uma miragem, era um borrão de tinta colorida que encobria um quadro em branco, tão vazio quanto a maioria dos quadros que já foram pregados nas paredes da casa que mantenho dentro de mim.

Alguns quadros já vieram e foram abruptamente arrancados das paredes... as marcas ficam, mas as paredes se fortalecem. O último quadro parecia definitivo, feito especialmente pras minhas paredes... mas alguns quadros preferem fazer parte de exposições itinerantes e não de exposições fixas, onde serão cuidados e contemplados em sua plenitude até o fim dos tempos.

Com a saída do último quadro, o branco das paredes e o silêncio eram ensurdecedores... momentos de surto! O surto (rompante inconsciente) converteu-se em catarse (rompante de retomada de consciência)... Minhas paredes agora tem novos quadros, dessa vez quadros meus... resolvi eu mesma decorar para evitar de esperar que grandes obras de arte resolvam aportar no meu cais.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Como nos enganamos

"Às vezes usamos nossa mente não para descobrir fatos, mas para encobrí-los. Usamos parte da mente como uma tela para impedir outra parte de perceber o que se passa em outro lugar. Esse encobrimento não é necessariamente intencional - não tencionamos confundir o tempo todo - mas, de propósito ou não, para todos os efeitos há uma tela que oculta. (...) Às vezes usamos nossa mente para ocultar uma parte de nosso ser de outra parte do nosso ser.

(...) o impacto integral e duradouro dos sentimentos requer a consciência, pois somente em conjunção com o advento de um sentido do self os sentimentos tornam-se conhecidos pelo indivíduo que os tem." O mistério da consciência - Antonio Damásio

sexta-feira, 5 de março de 2010

Coldplay, catarse e borboletas

Borboletas no estômago... Por mto tempo acreditei estarem mortas, mas estavam adormecidas e foram acordadas pela luz do céu azul!


Borboletas no céu... Uma chuva de cores para lavar a alma, para celebrar o início de um novo tempo, onde subvertemos a noção de tempo para colocar a rotação da Terra ao nosso favor, para fazer o tempo parar e as 60 mil pessoas sumirem por alguns minutos e ficarmos só nós, ao som do piano, ao som do coração acelerado.


Borboletas no chão... E até o chão onde pisamos parece ser colorido, parece mais alegre, mais leve e, ao mesmo tempo, mais profundo.

Que as borboletas no nosso estômago nos mantenham mais próximos do céu e suas borboletas, e que as borboletas do chão continuem colorindo nosso caminho.


Coldplay... catarse em forma de show!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Pés no chão

Refiz um caminho que há muito não fazia...

As ruas arborizadas que levavam à escola... ali estava eu novamente, sentindo aquele cheiro de escola, relembrando o perfume de fruta que saia de dentro da lancheira, o cheiro da chapa da lanchonete, o som do pessoal descendo enfurecido pela escada para o intervalo, a árvore com taturanas, os jogos de truco, as tardes de trabalhos e plantões de dúvidas, de idas rápidas à praça pra ficar no balanço... E voltei à praça! O velho balanço não existe mais, a praça está tomada pela vegetação, mal cuidada... mas ainda sim, foi o primeiro lugar no qual me senti livre.

Retomei o caminho para a casa, pela mesma rota da época do uniforme verde, das mochilas pesadas, dos fichários com fotos de artistas, das enquetes, dos almoços no Tio Julio, das bagunças na biblioteca, da correria na saída...

Quando tudo começa a mudar, nossos pés começam a sair do chão... nesse caso, volto àquele lugar onde passei 13 anos da minha vida, e sinto o chão novamente... continuo sentindo ter asas, mas volto a ter noção de onde está o chão... de onde vim, do que sou!

É o início do resto da minha vida! Novas responsabilidades e um grande sonho se realizando!